segunda-feira, 23 de abril de 2012

Mate-me com a arma de tua alma.


Entregarei todas tuas palavras a ela com as rosas e com os sorrisos gravados na memória também. Deixe que minhas mãos ásperas devido ao tempo arranque os espinhos das rosas para que o sangue de tua amada não suje os lábios dela com a lágrima salgada. Que minhas lágrimas morram nas linhas de minha face para que enterres minha alma em alguma mata alaranjada de dor. Que a chuva acaricia-me os braços delicadamente no caminho pedregoso para que meus abraços passados não me pareçam alguma falsa expectativa de brilho ou algo do estirpe.

Meus olhos pesaram com a chuva, o chão parecia-me delicado empoeirado e coberto de pétalas. Querido, aquela casa já não era me parecia angelical sem a tua presença, a rede já não era calma sem tuas mãos para balança-lá. As palavras não me pareciam tão belas após tua última melodia. As poesias queimaram em algum inferno doloroso de argumentos irreais.  O tempo virou rei imundo, corrido com as linhas que minha vista embaçada tentava enxergar.

São como estrelas apagadas, são meus olhos agora, negros, desacreditados e banhados de toda decepção e mágoa que guardamos na arma do psique. Atire em mim com tua arma de alma, assim, quiçá, doarás um bocado de teu amor agarrado em vida em meu corpo. Grite-me de longe e repita para mim que ela é a mulher de tua vida, que a ama, que ela é teu anjo dançante, diga isto, repita e repita até que meus joelhos se dobrem diante de minha tolice.

Aprendi que amor dói quando apenas o olhar mata. E acordar com todas as canções tocando rapidamente no pé de tua valsa fará com que tua alma retorne a mim com sorriso, mesmo que não queiras, buscarei-te nos céus de um grito. Beije-a até o gosto das mangas de meu quintal ficar insosso, beije-a com tua alma entrelaçada a minha. Que teu corpo faça desejo dela, que teu coração, tua carne a queira.

Apenas peço tua alma. Encontrarei-a, nem que em minhas poesias ou cartas rasgadas.

Quatro beijos amargos e quatro pedaços de almas perdidas, por favor.


O olhar estava tão negro quanto o abismo em que observava minh’alma cair. Observei as flores murcharem, as nuvens tornarem-se negritude e amores odiando-se. Fitei a neblina que o caminho presenteava-me, era tão turva quanto minhas palavras pareciam ser. Vesti a armadura, agarrei a espada e enfrentei a guerra. A guerra cheirava tão intensa quanto os frutos podres de minha doce e perdida alma. A senhorita carregava os cansaços da vida em seus poucos cabelos grisalhos, as decepções desgastaram toda a esperança que ainda restava nos lábios avermelhados e adocicados pelo sorriso glorioso de visita a morte.

Antônio, se o amor me abraçasse, como tuas mãos delicadas salvariam-me do frio que congela o sorriso? Como tua estupidez e ignorância voltariam a mim depois de uma noite mal pensada? Queria eu ter teu corpo jogado sobre o meu toda vez que o laranja tomasse conta das nuvens, queria eu gritar ao eco que meu ego faz que não amo, amor é psicológico, você é psicológico, Antônio. Em algum futuro eu sonhava com alguns afagos chorados e alguns olhares mal dados. Pensarei eu no passado que o senhor me olhará tão fixamente como teus lábios chamaram os meus em um convite gritante, caloroso e apaixonante. Meus tempos verbais estão confusos. Não pense que é burrice minha, sei que meu vocabulário fica meio calado quando teu corpo me transmite calor, mas é que conjugo os verbos de tuas ações na confusão, da mesma forma que és.

Lembras, Bernardo? Lembras que lhe contei de minha paixão de um minuto? Aquela que dura um minuto a cada mês contando como se fosse todos os dias de um livro não terminado? Esta é minha paixão por Antônio. Dissestes que me amas, devo eu acreditar? Fui tola durante boa parte de minha inútil e monótona vida, mas se pudesse eu encostar no bloco de notas de tua geladeira mais uma vez anotaria por lá mesmo que teu amor é inconstante, teus beijos olhados são amargos, apenas pelo fato do senhor olhar com medo, não vejo teus olhos nos meus, Bernardo. Pareces gostar de admirar-me, mas não deixe-se levar por isto. Acrescentaria eu então uma observação ao bilhete: “Amor que não se retribui pelo olhar não é amor. Que me olhe nos olhos e diga nada a não me olhares e falar tudo. Homem sem coragem não suporta amor pois é amor já é um abismo para se ganhar coragem.”

E você? Quem és tu? Perdoe-me, não me vem a memória teu nome. Lembro-me ter amado-te por anos, mas teu nome mudava tanto quando tuas cartas. Manuel! És tu, Manuel! Homem bruto com palavras rudes. Falava da morte como troféu, coitado. Se tivesses pensado ao menos duas vezes no que estavas fazendo não perderia tanto tua esperança. Fui louca ao pensar que minha confiança lhe servia de algo. Era lixo orgânico, que não dá nem para se reciclar. Avisei tanto para que sossegasse tua alma, porém minhas palavras foram em vão. Não é problema meu mais, não costumo cultivar insignificâncias.

Foram quatro amores perdidos, quatro almas podres iguais a minha, nenhuma que pudesse lavar-me o ser. Ah sim! A quarta alma. Ah, deixe-me sentar-me para falar desta. Veremos…Homem sem nome, sem codinome, sem beleza, sem clareza. Homem sem existência, sem consciência, não o conhecia, mas sabia que era outro que a alma não era de graça pois ele acabou de sentar-se comigo sem sorriso.

José, tua alma é mais uma em minha batalha, é imunda como minhas palavras, mas tua mediocridade me pacifica, o senhor sim, é feito de amor. Nenhum outro senhor foi tão racional para entender minhas questões errôneas. Bem vindo José, sente-se, mas não deixe-me encantada, não gosto de magia.