quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Quintana, ensina-me a amar meu passarinho.

"Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Enfim,
Tem de ser devagarzinho, Amada
que a vida é breve e o amor mais breve ainda..." (Mario Quintana)

Amo-te sim Quintana e desobedecerei a ti por um minutinho. Deixe-me gritar este amor que por mim floresce e lacera a alma fazendo-a sorrir, livre. Tuas linhas enrolam-me como passarinho preso e fazem-me, depois de tanto aprender com a dificuldade, voar com mais alegria. Mas este meu amor que grito por ti é tão antigo que teus versinhos tornam-se o café da manhã sem manhã, apenas o café que deixa-me feliz. Ou com manhã, calma.

Agora, querido Mario, ensina-me a amar devagarzinho meu amorzinho que é acanhado e assustasse fácil igual a passarinho. Meu telhado é frágil e meu grito desesperado, se grito ele voa de cima do telhado e o barulho das asas deixa-me infeliz. Minhas palavras são poucas, meu pedido simples, ensina-me a amar ou fazer amar igual fazes com simples versinhos.

Amo-te Quintana, agora fazes eu aprender a amar devagarzinho meu passarinho.

Tulipa querida,

"É que eu sambo direitinho, assim bem miudinho, 'cê não sabe acompanhar(...)" Ah Tulipa, eu sambo e 'cê nem sabe acompanhar.  "Eu protegi teu nome por amor-or(...)" Apelidos. Foi o que dissestes sobre nomes a um anônimo que estranhou a troca de apelidos. Tulipa, o que significas este apelido? Ah! Tulipa é minha flor predileta, tem cor da vida bonita, a essência de um sorriso e a beleza de um campo cheio de alegria! Foi por isto. Moça, lhe desconheci um bocado nas primeiras prosas, porém tua doçura fez-me perceber a belíssima alma que tens. Foi só questão de tempo e conversávamos já com grande irradiação, desde picolés até praias. O Tumblr porém não gostava muito das prosas e decidia engolir algumas partes para ele. Hahahahaha. Acho eu que todos deveriam conhecer-te, prosear contigo e ter o prazer de ser alvo de toda esta tua doçura.

Hoje, vinte de cinco de Janeiro, completas mais um ano de vida, são mais responsabilidades para se carregar e mais alegrias para brotar. Porém saiba que torço para ti de todas as formas possíveis. Sempre ouvi que palavras são carregadas de poder e são através delas que lhe desejo as flores mais bonitas, as curvas jubilosas de um sorriso e a coragem de uma Raquel! Hahahaha. Ah minha querida, tua amizade é valiosa! E você cheia de sonhos, admiro-a tanto por isto. Sonhos nos fazem crescer. Teus sonhos são belos e tenho certeza que conseguirás realizar cada um. Torço e rezo por ti. Agradeço-lhe de todo coração o carinho, o colo, os sorrisos, os conselhos, a preocupação e todo o raiar de um olhar longínquo. Mereces muitíssimos parabéns. Desejo-te mais um ano de vida cheio de alegria, flores, ventos sossegados e toda a força de uma única palavra para fortalecer-te a alma: amor. Amo-te muitíssimo minha querida amiga, Tulipa. Feliz aniversário!

Beijos,
Pipa.

domingo, 22 de janeiro de 2012

Valse de forma proibida, Madalena.

O relógio avisava cinco horas passadas após o almoço. Madalena rodopiava pela cozinha até a sala, a moça dançava desengonçada, havia ligado o rádio e a música acompanhou o vento acolhedor que entrava pelas grandiosas janelas abertas. Era sonho sair dançando por Paris e tomar as mãos de desconhecidos passando alegria e ritmo pelas mesmas. Sentou-se cansada no pequeno sofá que havia em frente a televisão bicolor pequenina. A valsa conduzia as pernas da moça para um balançar que a fez levantar, novamente. Alguma alegria acendia como fogo e deixava-a com face avermelhada. Não era apenas um estado emocional que a fazia ficar avermelhada, era mãos calorosas que acariciavam os braços da moça cuidadosamente. Sentia volúpia andar pelo corpo, sentia a alma aconchegar-se nos braços de um moço conhecido:
_ Não devias...
_Ah Madalena, teus cachos estão bonitos, teu olhar saudoso e teus lábios avermelhados. Pareces um querubim belíssimo. Estavas dançando tão alegre. Posso lhe acompanhar nesta valsa?
Madalena sabia o que estava fazendo, porém tinha medo. Lázaro era moço com casamento marcado, bibliotecário recém empregado. Ela havia o conhecido graças ao pai, que na época ainda trabalhava na biblioteca da pequena cidade quando Lázaro entrou para ajudar. Grandes amigos, Seu João, pai de Madalena, convidou o educado moço para um almoço. Os olhos dele trancaram e amarraram o olhar de Madalena durante a tarde toda. O moço foi-se e ela ficou ainda aprisionada ao olhar. Porém Lázaro estava noivo de Maria.

Ao aceitar o convite para a dança deixou-se guiar pelos braços e pés do moço pois as pernas pareciam ter lhe traído. A angústia descia pela garganta e queimava o estômago que parecia reconhecer tudo como uma simples cócega. A pequena risada foi inevitável. Apertou-a mais sobre o peito e valsou. Ao fechar os olhos compartilhou de toda a essência contida em si, cantarolou um bocado como com rouquidão inexistente. O vento ajudou no canto e soprou para levar as lágrimas que Madalena derramava. Ela amava, por isto chorava. Foi avisada desde pequenina para cuidar-se e prevenir-se de certo amor. Dizia ela sempre que iria ter cuidado e olhe só, agora ama quem noivo está.

Madalena sussurrava não poder:
_Deixe de ser boba Madalena, é apenas uma valsa, o que há de errado nisto?
O silêncio conturbava as palavras de Lázaro:
_Ama? Não se preocupe, amo também.
A moça ordenou que o moço saísse, apenas com gestos, palavras eram desnecessárias.

Ai anoitecer o sono, melhor, a falta dele, incomodava-a. Sentou-se na mesa e com apenas um feixe de luz escreveu em um pedaço de papel rasgado. Agora sim, dormiu sossegada. O sol já raiava e os vizinhos cochichavam: "Onde vai Madalena?" A moça, com suas malas buscava outra cidade, outro campo, outro amor e mais cor.

Dizia o bilhete deixado no correio de Lázaro:
"Amo sim, moço. Ah! E como o amo. Porém com amor não se brinca ou se valsa. Terei de procurar a dança que acolhe melhor minhas lágrimas e meu corpo. Acho difícil. Valsas bonito e de forma incomparável. Digo eu que não se preocupes, teu calor e teu amor são únicos. Buscarei apenas algo que complete alguns pedaços de poesia que deixei com o senhor. Palavras desconhecidas também formam uma bela poesia, amorosa. Deixo com o senhor o beijo de sabor avermelhado que nunca pude lhe dar."

Lázaro sabia, era Madalena que escrevia.

sábado, 21 de janeiro de 2012

Miséria minha.

Minhas margaridas não nasceram, minhas rosas tornaram-se vítimas dos próprios espinhos e mancharam-se de vermelho quando tentei ajudá-las. A terra tornou-se infértil e o sol cruel. Água era algo raro, a escassez feria o sorriso e a face era lavada só por lágrimas. As crianças deitavam no chão rachado e suplicavam por ajuda. As forças faltavam para ir em busca de algum riacho quase seco. A mãe corria para salvar o corpo do filho que morrera no meio do caminho. Eram inúmeras tentativas de salvar o filha da boca de animais famintos que rosnavam para a esperança que vencia os moradores irritados.

A visão da terra perdida se estendia até chegar aos braços tortuosos de um sol que se põe. As famílias já juntavam os panos e vasilhas e iam desviando dos corpos que os urubus não haviam deixado salvar. A miséria alimentava-se dos corações e dos gritos e gemidos. Algumas almas já julgavam-se perdidas pois a oração diária fora suspensa por tomar muitas energias, apesar dos joelhos já estarem acostumados a se dobrar em terras e pedras.

Com as mãos ressecadas, os joelhos sangrentos, os cabelos mal-tratados e os olhos desacreditados a irmã ia ensinado o irmão, que carregava com ele quatro anos de sofrimento, a brincar com a areia e pedras que iam achando pelo caminho. Eu, corria para admirar a única borboleta que havia visto em toda caminhada. Era um colorido de esperanças que logo se desfez com o vento ressecado que passou por mim. Era ilusão.

Lamentei minhas margaridas nunca vistas e minhas roseiras que sangraram até ressecar. Lamentei a miséria que passava o povo, a água escassa e as mãos velhas que cobriam a face desacreditada. Lamentava o desinteresse que os que nos viam carregavam no olhar e a magnífica harmonia que a chuva não mais trazia. Lamento por esse meu povo que tanto merecia.

A carícia era apenas poética.

O choro rouco transformava a garganta em nó de soluços, o vento assoviava caloroso de alguma entrada inexistente. O local era fechado, mais parecido com hospício resumido a uma sala. A luz branca fazia-me fechar os olhos e chorar sonhos presos em pequenos cochilos. Sentia puxarem-me para a lucidez, mas a mente dizia estar sendo examinada e que o sono ajudava em relação a noite mal dormida. O grito debochado assustou-me e fez-me encolher enquanto mãos gélidas agarravam-me a memória e ordenavam calma.

O som de violão veio de trás de uma cadeira grandiosa, o toque agradável começou a ser acompanhado por uma cantiga infantil a qual eu reconhecia muitíssimo bem a palavra amorosa cantada suavemente por uma voz grave. O som de tal voz subia por mim arrepiando-me a alma e beijando-me os lábios. O gosto avermelhado da voz que rodeava-me e abraçava-me era como amor único. Amor o qual eu reconhecia com toda minha fraqueza.

Cavalheiro, seus lábios sugavam-me o orgulho e a alma. Agora o choro se justificava, tua música roubava-me o ar e todas as curvas jubilosas de meu rosto. Ao pôr teu violão repousado a razão gritou. Gritava feroz. A razão implorava, dizia que os braços, sorrisos e com os olhos. Fazia-me acomodar e apreciar os carinhos que os dedos do cavalheiro iam fazendo e deslizando, enxugando as lágrimas e acariciando-as. Dormi.

Com os olhos abertos fui saudada pela escuridão, a sala estava sem luz e os lábios que me acompanhavam antes deixaram-me solitária. O cavalheiro que buscava a poetiza era imaginário, como todos os outros que eu lia entre as entrelinhas de uma bela e profunda poesia.