segunda-feira, 23 de abril de 2012

Mate-me com a arma de tua alma.


Entregarei todas tuas palavras a ela com as rosas e com os sorrisos gravados na memória também. Deixe que minhas mãos ásperas devido ao tempo arranque os espinhos das rosas para que o sangue de tua amada não suje os lábios dela com a lágrima salgada. Que minhas lágrimas morram nas linhas de minha face para que enterres minha alma em alguma mata alaranjada de dor. Que a chuva acaricia-me os braços delicadamente no caminho pedregoso para que meus abraços passados não me pareçam alguma falsa expectativa de brilho ou algo do estirpe.

Meus olhos pesaram com a chuva, o chão parecia-me delicado empoeirado e coberto de pétalas. Querido, aquela casa já não era me parecia angelical sem a tua presença, a rede já não era calma sem tuas mãos para balança-lá. As palavras não me pareciam tão belas após tua última melodia. As poesias queimaram em algum inferno doloroso de argumentos irreais.  O tempo virou rei imundo, corrido com as linhas que minha vista embaçada tentava enxergar.

São como estrelas apagadas, são meus olhos agora, negros, desacreditados e banhados de toda decepção e mágoa que guardamos na arma do psique. Atire em mim com tua arma de alma, assim, quiçá, doarás um bocado de teu amor agarrado em vida em meu corpo. Grite-me de longe e repita para mim que ela é a mulher de tua vida, que a ama, que ela é teu anjo dançante, diga isto, repita e repita até que meus joelhos se dobrem diante de minha tolice.

Aprendi que amor dói quando apenas o olhar mata. E acordar com todas as canções tocando rapidamente no pé de tua valsa fará com que tua alma retorne a mim com sorriso, mesmo que não queiras, buscarei-te nos céus de um grito. Beije-a até o gosto das mangas de meu quintal ficar insosso, beije-a com tua alma entrelaçada a minha. Que teu corpo faça desejo dela, que teu coração, tua carne a queira.

Apenas peço tua alma. Encontrarei-a, nem que em minhas poesias ou cartas rasgadas.

Quatro beijos amargos e quatro pedaços de almas perdidas, por favor.


O olhar estava tão negro quanto o abismo em que observava minh’alma cair. Observei as flores murcharem, as nuvens tornarem-se negritude e amores odiando-se. Fitei a neblina que o caminho presenteava-me, era tão turva quanto minhas palavras pareciam ser. Vesti a armadura, agarrei a espada e enfrentei a guerra. A guerra cheirava tão intensa quanto os frutos podres de minha doce e perdida alma. A senhorita carregava os cansaços da vida em seus poucos cabelos grisalhos, as decepções desgastaram toda a esperança que ainda restava nos lábios avermelhados e adocicados pelo sorriso glorioso de visita a morte.

Antônio, se o amor me abraçasse, como tuas mãos delicadas salvariam-me do frio que congela o sorriso? Como tua estupidez e ignorância voltariam a mim depois de uma noite mal pensada? Queria eu ter teu corpo jogado sobre o meu toda vez que o laranja tomasse conta das nuvens, queria eu gritar ao eco que meu ego faz que não amo, amor é psicológico, você é psicológico, Antônio. Em algum futuro eu sonhava com alguns afagos chorados e alguns olhares mal dados. Pensarei eu no passado que o senhor me olhará tão fixamente como teus lábios chamaram os meus em um convite gritante, caloroso e apaixonante. Meus tempos verbais estão confusos. Não pense que é burrice minha, sei que meu vocabulário fica meio calado quando teu corpo me transmite calor, mas é que conjugo os verbos de tuas ações na confusão, da mesma forma que és.

Lembras, Bernardo? Lembras que lhe contei de minha paixão de um minuto? Aquela que dura um minuto a cada mês contando como se fosse todos os dias de um livro não terminado? Esta é minha paixão por Antônio. Dissestes que me amas, devo eu acreditar? Fui tola durante boa parte de minha inútil e monótona vida, mas se pudesse eu encostar no bloco de notas de tua geladeira mais uma vez anotaria por lá mesmo que teu amor é inconstante, teus beijos olhados são amargos, apenas pelo fato do senhor olhar com medo, não vejo teus olhos nos meus, Bernardo. Pareces gostar de admirar-me, mas não deixe-se levar por isto. Acrescentaria eu então uma observação ao bilhete: “Amor que não se retribui pelo olhar não é amor. Que me olhe nos olhos e diga nada a não me olhares e falar tudo. Homem sem coragem não suporta amor pois é amor já é um abismo para se ganhar coragem.”

E você? Quem és tu? Perdoe-me, não me vem a memória teu nome. Lembro-me ter amado-te por anos, mas teu nome mudava tanto quando tuas cartas. Manuel! És tu, Manuel! Homem bruto com palavras rudes. Falava da morte como troféu, coitado. Se tivesses pensado ao menos duas vezes no que estavas fazendo não perderia tanto tua esperança. Fui louca ao pensar que minha confiança lhe servia de algo. Era lixo orgânico, que não dá nem para se reciclar. Avisei tanto para que sossegasse tua alma, porém minhas palavras foram em vão. Não é problema meu mais, não costumo cultivar insignificâncias.

Foram quatro amores perdidos, quatro almas podres iguais a minha, nenhuma que pudesse lavar-me o ser. Ah sim! A quarta alma. Ah, deixe-me sentar-me para falar desta. Veremos…Homem sem nome, sem codinome, sem beleza, sem clareza. Homem sem existência, sem consciência, não o conhecia, mas sabia que era outro que a alma não era de graça pois ele acabou de sentar-se comigo sem sorriso.

José, tua alma é mais uma em minha batalha, é imunda como minhas palavras, mas tua mediocridade me pacifica, o senhor sim, é feito de amor. Nenhum outro senhor foi tão racional para entender minhas questões errôneas. Bem vindo José, sente-se, mas não deixe-me encantada, não gosto de magia.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Sinestesia com tuas fantasias.

Jaz aqui uma moça, parou de acreditar, parou de amar, parou de escrever e até de comer. Jaz aqui a moça que muito entendia de pouco, que corria na tentativa de tocar as cores que a melodia ia fazendo tocar e pintar os ares. Jaz aqui a moça que visitava os lugares pela paz e agora está aqui apoiada na própria, abraçada a própria. Eu, a tal e falada moça, estava por aqui embalada por algumas pausas, sufocada por alguns ritmos, sorridente pelo próprio encanto que encobria a fantasia.

Dizia mamãe que as fadas não mais visitariam-me quando virasse gente grande, dizia que não poderia mais montar em meus unicórnios ou ainda sujar-me com minhas cores. Dizia ela e mais algumas amigas que as árvores não mais aceitariam minha presença, seria rejeitada pelos galhos e chutada pelas folhas, de lá de cima, com minhas mangas e outras frutas. Ainda passava pelos meus ouvidos a melodia que não poderia dançar na ponta dos pés, ainda flutuava as palavras em minha frente, as mesmas que faziam meus olhos brilharem e minha gargalhada estremecer qualquer flor por perto.

As fadas sumiram, meus unicórnios morreram e as árvores apodreceram. Jaz por lá a criança que um dia eu via. Hoje, jaz a moça aqui que por algumas lágrimas sofreu, transbordou, derreteu e molhou. Molhou as cartas não enviadas, as poesias não cantadas, as flores não pintadas, a paz não abraçada, o campo não visitado, o beijo - molhado - não dado, o afago perdido e o riso desiludido. Agora, estou aqui, antes do meu "Jaz" já falado, buscando a sinestesia. Buscando ouvir as cores e ver os sons assim como li uma vez em um canto onde o sorriso era instaurado, a calma fazia morada, a simpatia vivia relaxada e o amor pelas rimas em ritmos era comportada, ou espalhada no decorrer das horas.

Porém antes de meu "Jaz" apareceu um moço. Este fez aparecer minhas fadas, reviver meus unicórnios e crescer minhas árvores. Este fez a alegria emergir com apenas o silêncio. Este moço, é a magia em alma, este moço é a alegria de criança em alma de gente grande. Leia as cores, ouça as palavras e veja a melodia e entenderás que a magia não necessita ter sentido ou idade para acontecer.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Apresento-lhe meu amor.

Minguei até tornar-me tão pequena quanto minha esperança. Travei a língua e prometi aos sete mares que sobre ti não soltaria nem mais um verbo. Tudo que fiz foi tornar-me mais azeda com toda a tristeza que afundei e guardei em mim. Deveria ter soltado todas as fúrias mortas em teus lábios quentes, devia ter arranhado teu peito e feito de ti um arranhão, único, ou um beijo, acolhedor. Minhas palavras perderam um bocado a acepção, sei que não entendes mais o amontoado de bilhetes que deixei em tua janela. Estavam borrados. A escrita negra deslizava como vinho na garganta seca, cortava-me os dedos e sujava os olhos com um líquido transparente como cristal.

Levantei-me calma de meu divã. Queria lembrar onde meus pés estavam a me levar. Assistir-te! Sim, sim, como fui tola, como pude esquecer? Aquiete-se, o palco é teu. Estou aqui, assistindo-te solitária na platéia farta. Lembre-se de mim, imploro-te. Não deixe-me aqui, minguando, solitária com meu amor. Ensina-me a dançar também. Suplico-te, não solte-me no amanhecer de um adeus. Deixe, eu, fazer descansar teu corpo no palco de madeira, deixe minhas mãos mortas tocarem-te, pela última e desgostosa vez.

Deixe meus versos conduzirem-te em uma valsa delicada de corpos. Apresenta-me a leitura da vida, o toque caloroso através de um fitar perfurador que faz a alma doer e a mente gritar por perdão, apenas por ter amado, ou sofrido. Peço apenas para que não deixe tuas lágrimas tocarem-me o coração pois irá corroê-lo. Sei que transbordas por não ter tua bailarina, aquela que me faz morrer. Mas quando teus lábios pronunciam isto junto aos meus traz o gosto amargo do choro, traz o grito da solidão.

Se quiseres, vá, apenas não apagues minhas pegadas, deixe que me encontrem aqui, caída, em um palco de madeira, em teu palco.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Carecia, eu, de teu ódio.

A cor branca pintou-me os lábios com a delicadeza do desespero. A face afogou-se no vermelho do ódio e as mãos entrelaçaram-se nos livros velhos. O perdão implorou pelo seu uso, ajoelhou-se no vácuo da solidão. A gana invadiu-me, guardei o perdão, o escondi, o matei. Nunca o perdoei. Enrolei os braços carinhosos em seu pescoço cálido, beijei-o, sem perdão, retirei teu ar, querido, roubei teu ar. Perdoe-me, sem o meu perdão, eu carecia dele. Estava difícil respirar, tudo que precisava deixou-me: o amor, a poesia, a alegria, a lágrima, o ar.

Acredite, por favor, quando eu contar-te que cultivo ódio, porém acredite também quando eu contar-te que cultivo o amor. O pedido de perdão que saí de teus lábios envolvem-me com calor de uma chama cruel, não creio nela, nem em ti. Tua alma gargalha frente ao sofrimento, a ilusão, a minha agora dança na tua ignorância. Teu olhar perfura o orgulho e faz cair morta minhas palavras, faz cair em teus braços o sangue que resistiu ao teu toque, ao teu venenoso beijo doce.

Perdoe-me por não lhe perdoar, mas carecia eu, realmente de teu ar, de teus lábios, de teu orgulho, carecia eu de tua alma dentro da minha. Carecia de teu amor mergulhado no ódio, querido vadio amante.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Vidas enfeitadas por uma rosa.

Entre, desejas um chá? Há café quente também. Venha, ajude-me a regar as margaridas, as tulipas já estão bem cuidadas. Sente-se, acabei de lavar a rede. Queres saber onde achei a rosa? Ah, esta é rara. Caminhei desertos, matei feras, ressuscitei amores e suicidei-me para achá-la. Porém podes encontrá-la por um caminho mais fácil, no princípio, após tê-la sofrerá em dobro. Queres imitar as pegadas corruptas? Pois bem, venha, lhe mostrarei como.

Podes ver aquela bandeira ao longe? Verde, amarela, azul. Sim, aquela! Siga ela até vê-la em mãos de um grupo com vestes de luxo, porém cuidado!  Eles costumam fitar-te com um orgulho monstruoso, sibilar como gatos quando dizes que são errados e ainda manipular-te quando estás a descansar o intelectual. Mas acalme-se, passar por eles é fácil, somente passe a ignorá-los, não diga nada, cale-se! Eles lhe tomarão alguns pertences, mas saíras imune. Logo que passares pela bandeira encontrarás um verde gigantesco e belo, árvores acolhedoras, e animais pequeninos. O lugar é mais ao Norte, cuidado apenas com os mosquitos, eles costumam devorar-te, como já fizeram com todas as rosas que o povo dali tinha. Devoraram também a mata que servia de abrigo para macacos. Se eles lhe devorarem, morrerás com a garganta seca de tanto gritar pela rosa.

Ah, preferes o outro caminho? Este outro é repleto de adversidades, mas garanto-lhe que serás melhor acolhido. Bem, se preferes. Neste terás que seguir por um riacho seco. Encontrarás alguns peixes mortos, mas conseguirás desviar. Logo a frente verás alguns corpos jogados pelo chão, a morte ainda não passou, mas a dor não os deixa levantar. Ajude-os se possível, por favor. Mulheres lhe receberão perto de um outro riacho, elas carregam filhos no colo, mas ajudarão a alimentar-se e a saciar a sede se ajudastes aqueles corpos doloridos que estarão jogados no chão rachado pela ceifa da seca. Após o descanso encontrarás um enxada, agarre-a com as mãos firmes. Cave. Teus dedos sangrarão as lágrimas de um povo sofrido que tentou sibilar de volta para as feras do caminho anterior, o da bandeira. Continue a cavar. No fundo, sofrida, amassada, mas rica, encontrarás a rosa.

O que é a rosa? Ah, é muitíssimo bela. É o alimento de todo povo, é a cultura, o amor, o respeito, o direito, a esperança, a alegria. Ela é a poesia.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Igor querido,

A rede por cá na casa de meu pai está confortável, o céu está claro e os pássaros estão salvando tantas cores que cantam belamente. Moço, eu estava cá balançando com uma cadela em meu colo e logo deparei-me cantarolando melodias que de teus escritos vinham a memória. A cadela adormeceu. Olhe, Cecília e teus poemas vieram-me a escapar pelos lábios, engraçado, logo após Vanessa da Matta fazer adormecer a cadela. Admiração é algo que pouco uso, mas o pouco que uso faço do manuseio bem intenso. Com o senhor proseei pouco, mas digo que deste pouco muitos deveriam fazer. É calmante de alma. 

Os olhos foram fechando e saudade, termo maçante, veio molhando o rosto. Porém como de costume, carrego alguns versinhos que comigo florescem o coração. Um deles era teu, o choro agora fez-me sorrir. Poesias, carregadas de alma, fazem brotar sorrisos. As tuas são carregadas assim. És, moço, feito de palavras doces, ventos adocicados e alegria contagiante.

Perdoe-me pelas palavras pequenas, o papel por aqui é meio escasso - meu pai gastou tudo com desenhos, estávamos desenhando - e a caneta já está por falhar. Porém minhas poucas linhas são preenchidas por um enorme agradecimento. És uma doçura. Toca almas.

Afagos,
Inverno.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Quintana, ensina-me a amar meu passarinho.

"Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Enfim,
Tem de ser devagarzinho, Amada
que a vida é breve e o amor mais breve ainda..." (Mario Quintana)

Amo-te sim Quintana e desobedecerei a ti por um minutinho. Deixe-me gritar este amor que por mim floresce e lacera a alma fazendo-a sorrir, livre. Tuas linhas enrolam-me como passarinho preso e fazem-me, depois de tanto aprender com a dificuldade, voar com mais alegria. Mas este meu amor que grito por ti é tão antigo que teus versinhos tornam-se o café da manhã sem manhã, apenas o café que deixa-me feliz. Ou com manhã, calma.

Agora, querido Mario, ensina-me a amar devagarzinho meu amorzinho que é acanhado e assustasse fácil igual a passarinho. Meu telhado é frágil e meu grito desesperado, se grito ele voa de cima do telhado e o barulho das asas deixa-me infeliz. Minhas palavras são poucas, meu pedido simples, ensina-me a amar ou fazer amar igual fazes com simples versinhos.

Amo-te Quintana, agora fazes eu aprender a amar devagarzinho meu passarinho.

Tulipa querida,

"É que eu sambo direitinho, assim bem miudinho, 'cê não sabe acompanhar(...)" Ah Tulipa, eu sambo e 'cê nem sabe acompanhar.  "Eu protegi teu nome por amor-or(...)" Apelidos. Foi o que dissestes sobre nomes a um anônimo que estranhou a troca de apelidos. Tulipa, o que significas este apelido? Ah! Tulipa é minha flor predileta, tem cor da vida bonita, a essência de um sorriso e a beleza de um campo cheio de alegria! Foi por isto. Moça, lhe desconheci um bocado nas primeiras prosas, porém tua doçura fez-me perceber a belíssima alma que tens. Foi só questão de tempo e conversávamos já com grande irradiação, desde picolés até praias. O Tumblr porém não gostava muito das prosas e decidia engolir algumas partes para ele. Hahahahaha. Acho eu que todos deveriam conhecer-te, prosear contigo e ter o prazer de ser alvo de toda esta tua doçura.

Hoje, vinte de cinco de Janeiro, completas mais um ano de vida, são mais responsabilidades para se carregar e mais alegrias para brotar. Porém saiba que torço para ti de todas as formas possíveis. Sempre ouvi que palavras são carregadas de poder e são através delas que lhe desejo as flores mais bonitas, as curvas jubilosas de um sorriso e a coragem de uma Raquel! Hahahaha. Ah minha querida, tua amizade é valiosa! E você cheia de sonhos, admiro-a tanto por isto. Sonhos nos fazem crescer. Teus sonhos são belos e tenho certeza que conseguirás realizar cada um. Torço e rezo por ti. Agradeço-lhe de todo coração o carinho, o colo, os sorrisos, os conselhos, a preocupação e todo o raiar de um olhar longínquo. Mereces muitíssimos parabéns. Desejo-te mais um ano de vida cheio de alegria, flores, ventos sossegados e toda a força de uma única palavra para fortalecer-te a alma: amor. Amo-te muitíssimo minha querida amiga, Tulipa. Feliz aniversário!

Beijos,
Pipa.

domingo, 22 de janeiro de 2012

Valse de forma proibida, Madalena.

O relógio avisava cinco horas passadas após o almoço. Madalena rodopiava pela cozinha até a sala, a moça dançava desengonçada, havia ligado o rádio e a música acompanhou o vento acolhedor que entrava pelas grandiosas janelas abertas. Era sonho sair dançando por Paris e tomar as mãos de desconhecidos passando alegria e ritmo pelas mesmas. Sentou-se cansada no pequeno sofá que havia em frente a televisão bicolor pequenina. A valsa conduzia as pernas da moça para um balançar que a fez levantar, novamente. Alguma alegria acendia como fogo e deixava-a com face avermelhada. Não era apenas um estado emocional que a fazia ficar avermelhada, era mãos calorosas que acariciavam os braços da moça cuidadosamente. Sentia volúpia andar pelo corpo, sentia a alma aconchegar-se nos braços de um moço conhecido:
_ Não devias...
_Ah Madalena, teus cachos estão bonitos, teu olhar saudoso e teus lábios avermelhados. Pareces um querubim belíssimo. Estavas dançando tão alegre. Posso lhe acompanhar nesta valsa?
Madalena sabia o que estava fazendo, porém tinha medo. Lázaro era moço com casamento marcado, bibliotecário recém empregado. Ela havia o conhecido graças ao pai, que na época ainda trabalhava na biblioteca da pequena cidade quando Lázaro entrou para ajudar. Grandes amigos, Seu João, pai de Madalena, convidou o educado moço para um almoço. Os olhos dele trancaram e amarraram o olhar de Madalena durante a tarde toda. O moço foi-se e ela ficou ainda aprisionada ao olhar. Porém Lázaro estava noivo de Maria.

Ao aceitar o convite para a dança deixou-se guiar pelos braços e pés do moço pois as pernas pareciam ter lhe traído. A angústia descia pela garganta e queimava o estômago que parecia reconhecer tudo como uma simples cócega. A pequena risada foi inevitável. Apertou-a mais sobre o peito e valsou. Ao fechar os olhos compartilhou de toda a essência contida em si, cantarolou um bocado como com rouquidão inexistente. O vento ajudou no canto e soprou para levar as lágrimas que Madalena derramava. Ela amava, por isto chorava. Foi avisada desde pequenina para cuidar-se e prevenir-se de certo amor. Dizia ela sempre que iria ter cuidado e olhe só, agora ama quem noivo está.

Madalena sussurrava não poder:
_Deixe de ser boba Madalena, é apenas uma valsa, o que há de errado nisto?
O silêncio conturbava as palavras de Lázaro:
_Ama? Não se preocupe, amo também.
A moça ordenou que o moço saísse, apenas com gestos, palavras eram desnecessárias.

Ai anoitecer o sono, melhor, a falta dele, incomodava-a. Sentou-se na mesa e com apenas um feixe de luz escreveu em um pedaço de papel rasgado. Agora sim, dormiu sossegada. O sol já raiava e os vizinhos cochichavam: "Onde vai Madalena?" A moça, com suas malas buscava outra cidade, outro campo, outro amor e mais cor.

Dizia o bilhete deixado no correio de Lázaro:
"Amo sim, moço. Ah! E como o amo. Porém com amor não se brinca ou se valsa. Terei de procurar a dança que acolhe melhor minhas lágrimas e meu corpo. Acho difícil. Valsas bonito e de forma incomparável. Digo eu que não se preocupes, teu calor e teu amor são únicos. Buscarei apenas algo que complete alguns pedaços de poesia que deixei com o senhor. Palavras desconhecidas também formam uma bela poesia, amorosa. Deixo com o senhor o beijo de sabor avermelhado que nunca pude lhe dar."

Lázaro sabia, era Madalena que escrevia.

sábado, 21 de janeiro de 2012

Miséria minha.

Minhas margaridas não nasceram, minhas rosas tornaram-se vítimas dos próprios espinhos e mancharam-se de vermelho quando tentei ajudá-las. A terra tornou-se infértil e o sol cruel. Água era algo raro, a escassez feria o sorriso e a face era lavada só por lágrimas. As crianças deitavam no chão rachado e suplicavam por ajuda. As forças faltavam para ir em busca de algum riacho quase seco. A mãe corria para salvar o corpo do filho que morrera no meio do caminho. Eram inúmeras tentativas de salvar o filha da boca de animais famintos que rosnavam para a esperança que vencia os moradores irritados.

A visão da terra perdida se estendia até chegar aos braços tortuosos de um sol que se põe. As famílias já juntavam os panos e vasilhas e iam desviando dos corpos que os urubus não haviam deixado salvar. A miséria alimentava-se dos corações e dos gritos e gemidos. Algumas almas já julgavam-se perdidas pois a oração diária fora suspensa por tomar muitas energias, apesar dos joelhos já estarem acostumados a se dobrar em terras e pedras.

Com as mãos ressecadas, os joelhos sangrentos, os cabelos mal-tratados e os olhos desacreditados a irmã ia ensinado o irmão, que carregava com ele quatro anos de sofrimento, a brincar com a areia e pedras que iam achando pelo caminho. Eu, corria para admirar a única borboleta que havia visto em toda caminhada. Era um colorido de esperanças que logo se desfez com o vento ressecado que passou por mim. Era ilusão.

Lamentei minhas margaridas nunca vistas e minhas roseiras que sangraram até ressecar. Lamentei a miséria que passava o povo, a água escassa e as mãos velhas que cobriam a face desacreditada. Lamentava o desinteresse que os que nos viam carregavam no olhar e a magnífica harmonia que a chuva não mais trazia. Lamento por esse meu povo que tanto merecia.

A carícia era apenas poética.

O choro rouco transformava a garganta em nó de soluços, o vento assoviava caloroso de alguma entrada inexistente. O local era fechado, mais parecido com hospício resumido a uma sala. A luz branca fazia-me fechar os olhos e chorar sonhos presos em pequenos cochilos. Sentia puxarem-me para a lucidez, mas a mente dizia estar sendo examinada e que o sono ajudava em relação a noite mal dormida. O grito debochado assustou-me e fez-me encolher enquanto mãos gélidas agarravam-me a memória e ordenavam calma.

O som de violão veio de trás de uma cadeira grandiosa, o toque agradável começou a ser acompanhado por uma cantiga infantil a qual eu reconhecia muitíssimo bem a palavra amorosa cantada suavemente por uma voz grave. O som de tal voz subia por mim arrepiando-me a alma e beijando-me os lábios. O gosto avermelhado da voz que rodeava-me e abraçava-me era como amor único. Amor o qual eu reconhecia com toda minha fraqueza.

Cavalheiro, seus lábios sugavam-me o orgulho e a alma. Agora o choro se justificava, tua música roubava-me o ar e todas as curvas jubilosas de meu rosto. Ao pôr teu violão repousado a razão gritou. Gritava feroz. A razão implorava, dizia que os braços, sorrisos e com os olhos. Fazia-me acomodar e apreciar os carinhos que os dedos do cavalheiro iam fazendo e deslizando, enxugando as lágrimas e acariciando-as. Dormi.

Com os olhos abertos fui saudada pela escuridão, a sala estava sem luz e os lábios que me acompanhavam antes deixaram-me solitária. O cavalheiro que buscava a poetiza era imaginário, como todos os outros que eu lia entre as entrelinhas de uma bela e profunda poesia.