segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Vidas enfeitadas por uma rosa.

Entre, desejas um chá? Há café quente também. Venha, ajude-me a regar as margaridas, as tulipas já estão bem cuidadas. Sente-se, acabei de lavar a rede. Queres saber onde achei a rosa? Ah, esta é rara. Caminhei desertos, matei feras, ressuscitei amores e suicidei-me para achá-la. Porém podes encontrá-la por um caminho mais fácil, no princípio, após tê-la sofrerá em dobro. Queres imitar as pegadas corruptas? Pois bem, venha, lhe mostrarei como.

Podes ver aquela bandeira ao longe? Verde, amarela, azul. Sim, aquela! Siga ela até vê-la em mãos de um grupo com vestes de luxo, porém cuidado!  Eles costumam fitar-te com um orgulho monstruoso, sibilar como gatos quando dizes que são errados e ainda manipular-te quando estás a descansar o intelectual. Mas acalme-se, passar por eles é fácil, somente passe a ignorá-los, não diga nada, cale-se! Eles lhe tomarão alguns pertences, mas saíras imune. Logo que passares pela bandeira encontrarás um verde gigantesco e belo, árvores acolhedoras, e animais pequeninos. O lugar é mais ao Norte, cuidado apenas com os mosquitos, eles costumam devorar-te, como já fizeram com todas as rosas que o povo dali tinha. Devoraram também a mata que servia de abrigo para macacos. Se eles lhe devorarem, morrerás com a garganta seca de tanto gritar pela rosa.

Ah, preferes o outro caminho? Este outro é repleto de adversidades, mas garanto-lhe que serás melhor acolhido. Bem, se preferes. Neste terás que seguir por um riacho seco. Encontrarás alguns peixes mortos, mas conseguirás desviar. Logo a frente verás alguns corpos jogados pelo chão, a morte ainda não passou, mas a dor não os deixa levantar. Ajude-os se possível, por favor. Mulheres lhe receberão perto de um outro riacho, elas carregam filhos no colo, mas ajudarão a alimentar-se e a saciar a sede se ajudastes aqueles corpos doloridos que estarão jogados no chão rachado pela ceifa da seca. Após o descanso encontrarás um enxada, agarre-a com as mãos firmes. Cave. Teus dedos sangrarão as lágrimas de um povo sofrido que tentou sibilar de volta para as feras do caminho anterior, o da bandeira. Continue a cavar. No fundo, sofrida, amassada, mas rica, encontrarás a rosa.

O que é a rosa? Ah, é muitíssimo bela. É o alimento de todo povo, é a cultura, o amor, o respeito, o direito, a esperança, a alegria. Ela é a poesia.

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